quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

- Vida? – perguntei à cerâmica do banheiro.
- Bom, acho que não – ela respondeu.
Existem alguns sinais que exprimem insanidade. Conversar com a cerâmica do banheiro é uma delas. 
Violet. Isso mesmo! Violet vai ser o meu nome. Ou melhor, o nome dele, daquele corpo frio e sórdido que permanece imóvel na varanda procurando alguma cerâmica pra poder conversar. Violet não sabe explicar como isso aconteceu, em poucas semanas se tornou incoerente, invisível – até pra ela mesma, vale ressaltar. Violet está ficando magra, a cada dia e a cada segundo, e também, mais fria em ambos os lados. Externamente ainda é quente, mas, internamente se tornou gelo, ou melhor, aqueles pedaços de gelo que se formam no meio do oceano, sim, icebergs (obrigada, querida cerâmica). Todas aquelas pessoas tão indispensáveis, onde elas estão? Ah, essa eu sei, estão vivendo suas vidas e, também, guardadas na gaveta de guloseimas de Violet, ambas mortas e sem sentido. Digamos que a solidão custa bem menos por alguns muitos ângulos. O amor dói. Sim, e não me venha com aquela teoria de egoísmo e sentimento amargurado. Creio que ninguém nunca sofreu de amor como Violet, seria impossível. Sofrer por pessoas que nunca existiram não é nada fácil. Todos aqueles sonhos perfeitos mas, que pena, irreais.  Eu penso sobre Violet, hm, como isso pode ter acontecido. Tanto amor, tanto afeto e encanto, sim. Ingenuidade também. Todas essas coisas fascinantes se transformaram em um ódio crescente e misantropia aguda. Há uma hipótese que pretendo descartar, ainda tenho alguma fé em Violet. Certamente, acho que a cerâmica também. Porém, a pobre e gélida já está se cansando de Violet, teremos de trocar a matéria. Que pena! Eu adorava a cerâmica. .
Violet não gosta do que sente, talvez essa seja a pior parte. Ela odeia ter tanto ódio. Alias, ela odiava alguns quatro ou cinco dias atrás, agora ela não sente mais nada quanto a isso. Sem sentido. É dramático, não? Violet sempre gostou de drama, mas só do próprio. Violet quis se matar semana passada, e na outra também, isso me preocupa um pouco. Alias, não me preocupa não. Alias, não me importo.
Violet mandou um último recado, devo repassá-lo. Ei, se lembram da última carta de suicídio? Sim, eu sei que se lembram. Leiam, e imaginem que aquilo realmente aconteceu. E agora ela está morta e em um lugar melhor. É bom pensar assim, certo? Pensar que ela vai ser feliz. Bom, ela não vai (desculpa estragar sua doce esperança). Ela sempre acreditou num lugar chamado inferno, e é pra lá que pessoas assim vão. Enfim, ela não morreu, não fisicamente. Mas ela não vai mais ser vista, ela está morta de alguma forma. Você tem direito à um minuto de lágrimas. Obrigada. Violet marcou um encontro com a cerâmica do lado oeste do banheiro, não podemos nos atrasar.
- Isso decididamente não é vida – disse a cerâmica.

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