quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Amar-te ou odiar-te?

Café sempre me inspira a começar uma nova dissertação. Café é um ótimo estimulante, sabia? Sim, você já deve ter escutado isso na tv, e também deve ter escutado sobre a enorme lista de defeitos que podem ser causados ao seu corpo. Eu sempre desligo a tv nessa parte. Mas não é sobre café que eu vim falar, infelizmente. Eu vim falar sobre anorexia nervosa. Eu já passei por essa infeliz aí, faz uns oito anos. Ela mata, sabia? Não, você não sabe não. Anorexia de acordo com algum desses sites de psiquiatria, que no momento acho irrelevante pesquisar sobre, é uma doença (d-o-e-n-ç-a-!-!) na qual a pessoa se remete à uma dieta alimentar insuficiente com a intenção de perder peso e voar (voar?). Voar é a palavra que os anoréticos usam pra nomear a perfeição. Tolos, a perfeição nunca vai existir, por isso é tão falada, as pessoas gostam do que não existe. Vou lhes contar a história de Violet. 10 anos, 60 kgs, saia de babado, obesidade. Primas magras, amigas magras, mãe magra, avó magra, tias magras. Não, não tinha ninguém gordo na família, a não ser o tio, que mesmo sendo gordo todo mundo amava. 10 anos e transtorno bipolar (borderline, sei la). Ela até que se aceitava, mas o pai não. Então ela descobriu que podia vomitar depois de comer e isso a faria magra. Mas como vomitar? É difícil, muito, porém não impossível. 11 anos, 58 kgs, nutricionista, aula de dança. Bom, me cansei desse jogo de palavras. Não sei dizer como aconteceu, mas ela acordou e decidiu que não comeria mais. 2 meses depois e ela estava magra, não quanto desejava, mas socialmente magra. Doze, treze, quatorze.      Sempre mais magra. Calorias? Acho que café sem açucar tem 3 calorias, ou 13, não me recordo. Violet estava anorética, quarenta e poucos quilos, abaixo do peso pra altura. Mas não era isso que o espelho e sua mente diziam. Violet se revoltou contra si mesma, as notas diminuíram, o comprimento da roupa também, e a quantidade de drogas aumentou abusivamente.Tudo que a tirasse da realidade. Violet se tornou a tal temida Lady Insane. Lady Insane foi se cansando de tudo aquilo até o dia que se trancou no quarto e não se moveu mais. Foram três meses sem palavras, quase nenhuma comida e, o mais nojento, banhos totalmente irregulares. Três meses sem ver a cor do dia, sem mais de três horas dormidas e sem nenhum contato social. Lady Insane temia tudo, até a própria imagem.
- Síndrome do Pânico - disse o psiquiatra. Eu odiava aquele psiquiatra, Lady Insane ainda se encantou por ele nas primeiras sessões, mas depois o odiou.
Pílulas duas vezes por dia. O inferno começa. Comer se tornou tarefa principal. Ela esqueceu quem era, quem foi, quem podia ser. Queria morrer atolada no veneno mais perigoso, a comida. Em dois anos engordou uns quase vinte quilos. Se tornou nojenta, esquisita e pouco amável. Pelo menos se curou do transtorno. Não havia mais pânico algum. Ela queria morrer agora. Voltou a vomitar, comer menos e se matar nos exercícios, mas sendo uma pessoa por dia é meio complicado ter uma rotina. Pessoas que pensavam de forma diferente. Éramos 4. Eu (Ana), Violet, Lady Insane e seu lado masculino, que morreu alguns meses depois (mas logo depois retornou com outro nome). Não, Violet não tinha múltiplas personalidades, era ela, mas agindo de outra forma pra fugir de si mesma. Violet engordou. Violet virou um monstro. 16 anos, terceiro ano do ensino médio, Violet vira uma louca psicótica. Aí começa o quadro de diagnósticos. Vozes a chamando de gorda, a parede que parecida diminuir e a esmagar, monstros no espelho, ratos que saltavam do armário, minhocas que a seguiam. Violet enlouqueceu por alguns dias. Foram duas semanas. Quem era ela? Uma garota de 9 anos que conversava anos atrás com cinco amigos invisíveis e velava cada um deles. Violet teve depressão psicótica. Violet tentou se matar duas vezes, mas só tentou, nem sequer apertou profundamente a lâmina sobre sua pele, nem conseguia pensar, só escutava os diálogos que sua mente criava dentro de si.
- Eles querem roubar sua alma, estão escondidos dentro do telefone, do computador e se você pressionar a lâmina contra seu pulso consegue fugir deles - disse alguém dentro da mente de Violet, talvez Lady Insane, ou o temido demônio das pessoas fracas.
Lady Insane passou por padres exorcistas, videntes e espirítos que curam. Acho que eles pioraram o caso. Mas por um mês Violet foi tão feliz, sem Lady Insane e até sem mim. Mas nós estávamos lá. E nós voltamos. E trouxemos a anorexia. Lady Insane assumiu o comando, e emagreceu 20 kgs. Mas Lady Insane, como o nome diz, é completamente insana, e tentou se matar de novo. Tomou duas caixas de antidepressivo e nós três tivemos que ficar quase 24 horas com um tubo enfiado no nariz. Naquele dia fizemos o acordo de não falar nada, nem pensar. Aceitamos o tratamento, levamos todas as agulhadas, mas em silêncio. Pela primeira vez Lady Insane teve medo da clínica de reabilitação.
Sabe porque Lady Insane, Violet e eu passamos por tudo isso? Anorexia e suas artimanhas. Depois de conhecê-la você nunca mais vai ter uma identidade. Nunca mais vai se aceitar e no fim vai acabar com uma lâmina cortando o pescoço. Esqueçam o caso de Violet, ela não se curou, continua emagrecendo, tendo compulsões e vomitando. Ela não serve de exemplo pra nada.
Quando você entra nesse labirinto você se perde. Ele não tem saídas. Você tem que ser um super-herói pra se livrar dele. A anorexia mata não só de insanidade, mas de anemia, leucemia e infecção generalizade. (Lady Insane passou pela primeira). A anorexia vai roubar sua personalidade e vai ter fazer alguém neurótico e sem saúde. Ela vai te transformar num robô, frio e sem esperança. Se você não se tornou intima, ainda, não queira se tornar. Ela vai te matar um dia.
Mas há algo que devo confessar, ela vai te dar a maior sensação de prazer de todo o mundo, prazer que droga nenhuma vai te dar, o prazer de estar no controle. O prazer da fome, o prazer de sentir o seu corpo e sua mente tão vazios que nada pode te fazer entornar num mar de emoções desnecessárias. A anorexia também te faz feliz por alguns momentos, ela cria um universo só seu, totalmente favorável e te ensina a lidar com ele. Ela te faz mais inteligente, mais crítica e te ensina a se amar um pouco, mesmo se autodestruindo a cada dia. É um caso de amor insano, onde a morte é só uma questão de opinião.
Faça suas escolhas, mas mantenha sua mente preparada pra se perder dentro de você mesmo.

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