E ela diz que tem medo de morrer de medo, e o meu medo é não
poder morrer de amor, morrer de medo de amar. É tanto amor pra falar, tanta
história pra contar e pouco, quase nada, pra viver. Vai se perdendo os sonhos, aprendendo a viver
do amor que não é seu, e quando parar pra ver, não haverá um sequer de pé pra
contar a história. Mas a história não cessa num só verso, tem sempre uma
meia-volta inteira pra se repetir os mesmos erros, e um caminho novo inteiro
pra lamentação. E eu a vejo chorar a falta de vida, mas nunca a vi disposta a
viver, e é tão doce essa tristeza, que te leva pra onde der. Quando abrir os
olhos vê se oferece um abraço, é o que ela precisa pra dar mais dois suspiros.
Não custa nada sorrir quando o sorriso pede pra sair, é só sentir, aquela
história do involuntário, nesse caso tão voluntario que serão necessários mais
que abraços pra ver o céu se abrir naquele sorriso de menina que não sabe ainda
beijar. Mas beija, mil bocas e mil corpos, sempre com a alma em outro lugar, nunca sentiu um beijo sem pensar
no arrependimento de beijar. E ama pensando no arrependimento de amar, e no
fim, sempre no fim. Não sei qual o conceito de se começar pensando no fim, que
todo começo tem fim não discordo, é a lei da vida e de todas as equações de
álgebra que já respondi em toda a vida, mas é sempre bom enquanto dura. Vai que
esse teu coração não muda essa universalidade do fim e faz eterno ou até que a
morte os flagele. Dois passos, dois suspiros, um passo em falso e cara
esparramada no chão. Lá vai a beleza se arremessar no labirinto do medo, mas
que maldição. Não sai nem grito da alma, só cai lentamente, docemente. Diz que
se acostumou com o fundo do poço, diz tanta coisa insana que eu tapo os ouvidos
pra não chorar de amor. Tão belos, doces, insanos e desastrados olhos, caindo,
lentamente. E ela diz que tem medo de morrer de medo, e o meu medo é morrer sem
ver aquele sorriso se abrir mais uma vez. Que tapem esse tal labirinto, ou o
tranquem, qualquer coisa que a afaste da queda. Porque eu a quero tão bem, e
ela se quer bem, e ah, o resto é um cercado de folhas secas. Lhe dou um carinho,
um abraço e um punhado de alegria a cada dia e tu me promete um punhado de sorriso?
Ah menina, esse teu medo me deixou foi encantada. E ela diz que tem medo de não
viver o suficiente, e o meu medo é que esse medo acabe e a roube os sonhos. E o
meu medo é medo algum, porque ela há de ser feliz, e eu ei de ser feliz um
pouco mais, trocando o medo pelo sorriso da menina. Abre esse sorriso, tão
doce, tão sensato, mais lindo que o céu.
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