quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Esse é velho bandido!

- Medo.

Sem exclamação? Ah, isso sim me dá medo. É o nome do sujeito que me tira a paz, sujeitinho besta que me tapa os olhos bem na hora do beijo final. Tapa os olhos, os ouvidos e, eventualmente, me tira os movimentos. Me imagino milhas distantes de todo esse medo, distante o suficiente pra nem sequer sentir aquele cheiro insuportável de lágrimas, aquele gosto salgado que me dá na boca, aquele arrepio frio que o suor me causa. Sem ele, talvez, pudesse eu ter terminado os mil contos que comecei, as mil histórias de amor que um dia quis contar aos meus netos, as aulas de balé clássico e karatê, os rascunhos velhos do moleskine rasgado. Ah, tantos planos não seriam mais planos, tantos sonhos seriam agora realidade e no meio disso tudo você, talvez, estivesse ao meu lado, segurando meu polegar contra o teu rosto.  O medo tem mais força que todos os teus músculos agindo juntamente sob extrema tensão. Você quer correr, quer dizer sim, beijar mais uma vez, mandar pros quintos, ah, mil coisas, e o medo lhe segura os pulsos e com toda a sua força lhe minimiza de uma forma tão grandiosa que a voz sequer sai, o beijo nem estala e o ressentimento acaba mandando é você pros quintos. É tão fácil dizer que a coragem lhe acompanha, que você é mais forte que seus medos, é quase nada perto de sentir. Quem teme sabe como é, por dentro, nas vísceras e lá no fundo daquilo que lhe faz sentir. Seja lá o que for, o medo sempre vai chegar primeiro. Mas daí, lá vem a parte boa, ou quase, cabe a você, a mim e ao garotinho com medo de monstros parar pra pensar no que vai lhe fazer chegar mais longe. Juntar coragem pra ser corajoso, duas vezes corajoso, duas vezes forte. A diferença entre aqueles que conseguem terminar e você, e eu, aqui e lá, que nem sequer começamos, é a força, que sabe lá Deus de onde saí, que os move pra frente. Há dois caminhos, o que o leva adiante e o que lhe faz retroceder. Se queres ir adiante, assim como eu quero, é melhor fazer as pazes com o medo, lhe propor um contrato de boa convivência e ser forte duas, três, quantas vezes der. Um passo de cada vez, mas pra frente.

- Medo!

Com exclamação, aí sim, mais bonito e eficaz. Medo que vem, se pronuncia e vai atrás de um ponto final em outro verso. No meu não, não se arrisque a virar pó, meu caro. Tratemos o medo como uma sensação que vem e segundos depois vai. Vai! Vai. Um ponto final pro medo de ter medo.



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