É o que os escritores, de gaveta
ou não, costumam fazer. Todos presos a transformar o sentimento em versos,
rimas, ou seja lá o que for, o que importa é tirar aquilo do peito, é
desmascarar a verdade e jogá-la nua e crua sobre lençóis autoimunes á realidade.
Covardes ou não, sentem, e sentem com constância, com total dedicação. Amar um
poeta é ser amado como nunca antes, ver seus olhos, rostos e quadris desenhados
em palavras. Se o sentimento não pode real, certamente, se tornará uma dessas
citações que percorrem cadernos, anotações, sacos de pão e bocas infelizes
pelos cantos mais empoeirados da cidade. Quem não pode amar, inventa um amor.
Quem pode, tão logo temerá, tão logo inventará um alvará de perturbação à
realidade. Insensatos, sarcásticos da vida moderna, tão pobres de alma, nunca chegarão
a conviver com o amor. São corações cravados com a dúvida, corações que guardam
cicatrizes que formam nomes e rostos. Se não pode aceitar a falta de amor, não
se comprometa a viver num mundo onde qualquer palavra, ainda que de difícil
pronúncia, sai com mais naturalidade aos olhos e sentidos. O Amor, tão incerto,
me tornou um desatento, um violentado, pelo próprio amor guardado. Amor, até
então um sóbrio galanteador, agora, um bêbado qualquer. Não creio, não sinto.
Me dói vê-la assim, sozinha, num labirinto onde o amor se esconde. Inveja-me
teus olhos, que tão docemente brilham. Inveja-me, teus olhos que, tão genuinamente,
podem contemplar o amor. Aquele amor que os poetas invejam em suas rimas
calculadas.
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