segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Resenha de uma história de amor que eu nunca ouvi falar

Diz que sim, mas finge que não. Cafés, rosas, lírios amarelos e um cartão, tão doce como as trufas de avelã, com passagens da obra de Sheakespeare. Eu me lembro do sabor das trufas e dos beijos. Se eu pudesse viver um dia sequer sem o sabor da avelã, bom, isso não seria possível. Eu escrevi cartas pra você, cartas como essa, na intenção de retribuir os lírios, e as trufas, e os versos; mas tão pequenas, tão inúteis comparadas aos olhos que as fitariam por alguns minutos, antes de desmanchar de um jeito qualquer o laço de cetim lilás que as embrulhavam. Não as mandei, nunca sequer chegaram até você, o laço nunca seria arrancado com o deszelo natural dos adolescentes da década de 60, tão preocupados em parecer descolados em suas jaquetas de couro. O fato é que houve amor, o amor mais sereno, mesmo que discreto, amor de quem ama pelo simples prazer de amar. Éramos dois inconsequentes, você no rock'n roll e eu nas lutas sociais, revoltosos e indisciplinados. Eramos John e Ioko, tirando a parte da capa de revista, nem um pouco populares, ou exemplares, mas, perfeitos um pra ideologia do outro. Você declamava o seu amor aos quatro ventos, eu omitia o sentimento descontrolado em cartas sem destinatário. Há pessoas que tanto se amam, tanto se completam, que não conseguem ficar juntos por não suportar tamanha perfeição. Nós, tão fervorosos, tão covardes. Hoje eu visualizo a exatidão dos fatos. Hoje não estamos juntos, não moramos sob o mesmo teto, nem acumulamos bens em conta conjunta. Vivemos tão distantes do ideal de vida, que ela mesmo, pobre, esperava de nós. Era primavera, tarde de uma quarta feira qualquer, do dia não me recordo, e estávamos lá, deitados face a face planejando, ou evitando tantos planos. Só estávamos juntos, um somente, pedindo aos céus que não nos tornássemos nada além de bons, e ternos e eternos, amantes. Amantes, era só isso que queríamos, nos amar noite e dia, sem rótulos, sem alianças, como se o mundo ao redor fosse invenção do cinema. Um mundo nosso, sem regras. 
 - Eu quero te amar - você disse, sorrindo, brilhando, tão lindo sorriso.
- Até quando?
- Até quando der.
Eu me lembro, cada detalhe. Me lembro como se fosse ontem, porque foi ontem. E antes de ontem, e todos os dias de todas as semanas dos últimos 50 anos. Sem rótulos, sem alianças. Amando até quando der, amando enquanto o amor durar. Meu amor, o meu tão grande amor, quebrando o paradigma, tornando-se exceção, é amor e pra sempre, ou até quando der, se preferir. 
Dois velhos, ranzinzas, idealistas. Duas pessoas que souberam como usufruir do amor, até quando der, até enquanto durar. E durou, por ternos e eternos anos.

Com sentimento (e milhões de cartas embrulhadas em cetim lilás), 
de sua eterna companheira de vida.



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