Domingo à tarde, lá estava você,
me dando toda a certeza do mundo de que o que eu já havia constatado noite
passada era real. Eu precisava daqueles olhos cheios de alegria mais uma vez,
precisava daquele sorriso sincero pra me sentir bem. Meus amigos não entendem,
ninguém entende, nem eu mesma entendo o porquê de tanto encantamento. Você não
tem nenhum ponto no seleto time de características indispensáveis, não tem
nenhuma semelhança com os outros já eleitos pro cargo de capitão da caverna
abandonada. Sabe-se lá qual o sentido de tantos procedimentos técnicos,
mas a caverna já foi deveras devastada,
é necessário certo cuidado no manuseio, é cheia de becos empoeirados. Mas, tão
certo, tão discreto, na verdade nada discreto, você apareceu daquele jeito nada
romântico, derrubando coisas no chão e chamando atenção pra sua falta de
vontade de seguir as normas. Meu palhaço predileto, pagaria pelo show todos os
dias, só pra sorrir um pouco, sorrir de verdade. Morreria de vergonha dos seus
gestos indiscretos e depois morreria de amor por todos eles. É o jeito mais
prazeroso de contradizer minhas verdades, até ontem verdades, verdades que são
na verdade pura mentira, pura falta de conhecimento da verdade. Vou redigir um
novo código de normas, um novo seleto time de características, e você vai estar
em todas elas. Sabe que eu até me esqueci daquela história de viver sem
sentimentos? Quando eu estou com você eu nem me lembro de metade das coisas que
eu regi como normas de sobrevivência. Com você não é necessário sobreviver, do
seu lado eu posso viver de verdade. Não, eu não te amo, nem quero morrer de
amores por você, quero evitar o sentimento, aquele sentimento regrado, deixa
acontecer o que tiver que acontecer. Desconheço uma feição mais encantadora. Me
ensina os mil dilemas de uma vida de verdade e eu te ensino como fazer um bife
bem passado. Discretamente eu vou me tornando mais feliz, só pelo fato de um
dia ter te conhecido.
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