sábado, 8 de dezembro de 2012

Primeiro ato, 8 dezembro de 2012.


You shout your mouth
How can you say
I go about things the wrong way?
I am Human and I need to be loved
Just like everybody else does


...




Ah, aquela sensação de começar algo, tão orgástica e provocante. Eu deveria tomar cuidado com os efeitos colaterais, mas, eu necessito de um pouco de felicidade súbita ás vezes. Não sei se devo beber mais café, minhas mãos estão trêmulas e eu nem sei o que pode acontecer em seguida, tenho medo de complicações físicas, e eu detesto médicos e consultórios com cheiro de menta com um toque de desespero e amargura. Detesto o cheiro de amargura, chega a ser constrangedor. Pensei em ser médica aos 12 anos, comecei projetos de estudo e sonhava com uma vida na qual eu me contentaria com a felicidade dos outros ao mesmo tempo em que morreria de infelicidade, vivendo em plantões, sem um companheiro, bebendo dúzias de xícaras de café, chá, e comendo sanduíches de hospital, aqueles que se encaixam entre os termos quase saudável e nada saudável. Enfim, eu seria louvável, e talvez fingiria certa frieza, talvez me chamassem de House, e me presenteariam com olhares medrosos, porém respeitáveis. Mas, melhor não. Não sei se suportaria o cheiro de menta, não gosto muito de menta, prefiro canela. Aliás, como eu gosto de canela, mas isso não vem ao caso. Nunca tenho silêncio em casa, e quando tenho acabo me perdendo em pensamentos como esse, ideias loucas e nada sensatas que em algum momento me vejo obrigada a passar pro papel. Bom, tudo culpa do último romance que li, ele durou bem menos que o esperado e agora eu não tenho nada, nada interessante, nada pra fazer. A trilha sonora não ajuda muito, sempre me sinto comovida a repensar meus atos e criticar meus sentimentos quando escuto minha playlist anos 80, e então fico por minutos imaginando como seria se tivesse nascido alguns anos atrás, e vivido as melhores épocas da história. Não sei se foram as melhores, ou se as melhores ainda estão por vir, mas o que não se tem é sempre melhor, o que não se teve e o que eu tenho certeza que nunca será meu. A velha história de que a grama do vizinho é mais verde, ou mais robusta. Não concordo muito com alguns ditados populares, mas quem sou eu pra discutir com a grama do vizinho. Bom, descobri que se eu alterar os fones eles se mantém por mais tempo sem grande desconforto, é só colocar o da esquerda no ouvido direito e vice-versa. Cheios de personalidade, feitos sob medida pra mim, pra minha incapacidade de lidar com padrões! Não discuto mais com a minha imensa capacidade de me contradizer, de ser mais estranha do que ontem, eu gosto desse meu jeito descuidado, não tanto quanto desejaria, mas, a cavalo dado não se olha os dentes! Mais ditados, eles são uma sina da qual tenho que conviver. Nada demais comparado ao vício por coisas que não me fazem tão bem. Aliás, acho que essa é minha ultima chance de beber uma xícara de café sem que ninguém perceba e me julgue viciada, preciso de uma reabilitação para viciados em cafeína. Será que existe um cafeinados anônimos, aliás, essa palavra “cafeinados” existe? Acho que a resposta seria não pra ambas. Talvez um dia eu me cure e reúna um grupo para terapia em grupo, seria original, talvez a primeira coisa original que eu faria em anos. Falando em grupo de terapia li no fórum que há um na universidade, pensei em me juntar a eles, mas talvez.. melhor não. Já não tenho a fama mais requisitada, aliás, eu tenho alguma fama? Tirando meus poucos colegas de classe e seus cônjuges, creio que ninguém mais sabe da minha existência naquele montante de milhares de universitários alcoólatras que sonham em fazer algum dinheiro no futuro, dinheiro suficiente pra cerveja, viagens curtas e um belo carro. Somos a geração dos compensados, qualquer coisa mínima que seja já nos deixaria felizes pro resto de nossas aposentadorias cheirando a café e cigarros de palha. Tão decadente que dá sentir o cheiro de urina de gato e carpete molhado. Creme de barbear barato e colônia para bebês. Melancolia pura. Sejamos mais discretos, mais otimistas, talvez. Se nada der certo, infelizmente, não deu. Não dá pra ser hippie em pleno século XXI. Infelizmente. Bom, vou aproveitar os últimos minutos e tomar todo o café em um gole só. Depois tremer a noite toda como uma velha doente obcecada por comprimidos de açúcar. Meu Deus, preciso de um álibi.

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