You shout your mouth
How can you say
I go about things the wrong way?
I am Human and I need to be loved
Just like everybody else does
...
Ah, aquela sensação de começar
algo, tão orgástica e provocante. Eu deveria tomar cuidado com os efeitos
colaterais, mas, eu necessito de um pouco de felicidade súbita ás vezes. Não
sei se devo beber mais café, minhas mãos estão trêmulas e eu nem sei o que pode
acontecer em seguida, tenho medo de complicações físicas, e eu detesto médicos
e consultórios com cheiro de menta com um toque de desespero e amargura.
Detesto o cheiro de amargura, chega a ser constrangedor. Pensei em ser médica
aos 12 anos, comecei projetos de estudo e sonhava com uma vida na qual eu me
contentaria com a felicidade dos outros ao mesmo tempo em que morreria de
infelicidade, vivendo em plantões, sem um companheiro, bebendo dúzias de
xícaras de café, chá, e comendo sanduíches de hospital, aqueles que se encaixam
entre os termos quase saudável e nada saudável. Enfim, eu seria louvável, e
talvez fingiria certa frieza, talvez me chamassem de House, e me presenteariam
com olhares medrosos, porém respeitáveis. Mas, melhor não. Não sei se suportaria
o cheiro de menta, não gosto muito de menta, prefiro canela. Aliás, como eu
gosto de canela, mas isso não vem ao caso. Nunca tenho silêncio em casa, e
quando tenho acabo me perdendo em pensamentos como esse, ideias loucas e nada
sensatas que em algum momento me vejo obrigada a passar pro papel. Bom, tudo
culpa do último romance que li, ele durou bem menos que o esperado e agora eu
não tenho nada, nada interessante, nada pra fazer. A trilha sonora não ajuda
muito, sempre me sinto comovida a repensar meus atos e criticar meus
sentimentos quando escuto minha playlist anos 80, e então fico por minutos
imaginando como seria se tivesse nascido alguns anos atrás, e vivido as
melhores épocas da história. Não sei se foram as melhores, ou se as melhores
ainda estão por vir, mas o que não se tem é sempre melhor, o que não se teve e
o que eu tenho certeza que nunca será meu. A velha história de que a grama do
vizinho é mais verde, ou mais robusta. Não concordo muito com alguns ditados
populares, mas quem sou eu pra discutir com a grama do vizinho. Bom, descobri
que se eu alterar os fones eles se mantém por mais tempo sem grande
desconforto, é só colocar o da esquerda no ouvido direito e vice-versa. Cheios
de personalidade, feitos sob medida pra mim, pra minha incapacidade de lidar
com padrões! Não discuto mais com a minha imensa capacidade de me contradizer,
de ser mais estranha do que ontem, eu gosto desse meu jeito descuidado, não
tanto quanto desejaria, mas, a cavalo dado não se olha os dentes! Mais ditados,
eles são uma sina da qual tenho que conviver. Nada demais comparado ao vício
por coisas que não me fazem tão bem. Aliás, acho que essa é minha ultima chance
de beber uma xícara de café sem que ninguém perceba e me julgue viciada,
preciso de uma reabilitação para viciados em cafeína. Será que existe um
cafeinados anônimos, aliás, essa palavra “cafeinados” existe? Acho que a
resposta seria não pra ambas. Talvez um dia eu me cure e reúna um grupo para
terapia em grupo, seria original, talvez a primeira coisa original que eu faria
em anos. Falando em grupo de terapia li no fórum que há um na universidade,
pensei em me juntar a eles, mas talvez.. melhor não. Já não tenho a fama mais
requisitada, aliás, eu tenho alguma fama? Tirando meus poucos colegas de classe
e seus cônjuges, creio que ninguém mais sabe da minha existência naquele
montante de milhares de universitários alcoólatras que sonham em fazer algum
dinheiro no futuro, dinheiro suficiente pra cerveja, viagens curtas e um belo
carro. Somos a geração dos compensados, qualquer coisa mínima que seja já nos
deixaria felizes pro resto de nossas aposentadorias cheirando a café e cigarros
de palha. Tão decadente que dá sentir o cheiro de urina de gato e carpete
molhado. Creme de barbear barato e colônia para bebês. Melancolia pura. Sejamos
mais discretos, mais otimistas, talvez. Se nada der certo, infelizmente, não
deu. Não dá pra ser hippie em pleno século XXI. Infelizmente. Bom, vou
aproveitar os últimos minutos e tomar todo o café em um gole só. Depois tremer
a noite toda como uma velha doente obcecada por comprimidos de açúcar. Meu
Deus, preciso de um álibi.
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