Ah, nucas! Um pescoço, um arrepio, você. Talvez, até eu
pudesse me infiltrar nesse jogo de palavras, mas o risco não compensa a ilusão.
Se ao menos a certeza me fosse amiga. Seus olhos, e que olhos! Ser humano
nenhum, em qualquer grau de sanidade, jamais resistira aos teus olhos. Digo, talvez
eu tenha resistido, resisto todos os dias. Não há sequer sentimento, amor, ódio
ou desejo. São só seus olhos, tão somente teus, tão lindos. Talvez eu queira
lhe mostrar afeto, mas, não há sequer palavras. O silencio fala tudo, teus olhos,
o meu silêncio. Se me provoca o silêncio, certamente, ou melhor, é evidente que
me tira a paz, o movimento e qualquer vestígio de ar que eu ainda possa
oxigenar. Se fosse ao menos discreto, se fosse ao menos meu o teu olhar. Se eu
me torno completamente inútil ao seu lado, de fato, deve haver algum espaço pra
mim no teu jogo, tão limitado, de palavras. Me aperto, me dobro em alguns
milhares de pedaços, se necessário for, e pra rimar, talvez me esforce nessa ideia
de um quase inimaginável amor. Você sabe exatamente os efeitos que causa, e a
sua falta de lucidez, seus questionamentos, sua intensidade em sentir é tão
semelhante à quase loucura que eu costumo chamar de bela. Bela, não, não é
bela, é a coisa mais bem delineada que eu
já criei. Meu perfil, bate, se encosta e atrai todos os polos dessa sua
inocência pagã. Digo, não minto, jamais mentiria, teus olhos são os dois
labirintos mais excitantes e belos nos quais eu pude me perder. Eu lhe pediria
pra ficar, sentar frente a mim e me alucinar, me prender ao mais belo
labirinto, à mais bela e perfeita sensação. Me perdoe, mas seus olhos, seus
olhos.. Mas, o risco, o risco não vale. O risco vale todo e por completo.
Morreria quantas vezes fossem necessárias pra poder vê-los novamente em mil
vidas, infinitas. Poderia ser teu prendedor de cabelo, teu cão, teu vizinho da
esquina, o tio da padaria. Seria o que fosse, o que desse, o que me fosse
permitido, o que me fosse oferecido, seria, apenas. Mas, é como num filme
qualquer, numa estória de fadas, num clássico de literatura, é como as coisas
acontecem do lado de fora do mundo que criei pra nós, sempre tem um fim. Se for
pra ter fim, eu prefiro morrer, ou sucumbir a insanidade. Se for pra nunca mais
ver teus olhos, me cegaria a próprio punho. A covardia me impede de aceitar o
fim. Se for pra ter fim, que nem inicio tenha. Desisto dos teus olhos. Desisto
dos meus. Me afasto dos teus, me apego ao nada. Me afasto da vida, me afasto da
história de quase amor inimaginável, mais uma, e outra, e outra, e outra vez.
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