sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Vai...


Querido eterno amor da minha vida,
Devido às circunstancias, eu preciso dizer que durante todos esses anos eu me perguntei o porquê, o porquê de tudo ter sido tão difícil pra mim depois da sua partida. E porque, de uma forma extraordinária, as coisas eram tão mais fáceis tendo você do meu lado? Porque os seus ovos com bacon pela manhã me faziam tanta diferença? Eu ouvi as coisas mais absurdas, e eventualmente as vi, me recordo com desgosto. Mas, enfim, você se foi pra outro plano, dimensão, seja lá o que for. E como eu fico? Já parou pra se perguntar que eu, consequentemente, também morri? O que eu faço quanto a isso?  Você sabe muito bem que a sua morte não foi coisa do destino, e eu me pergunto o porquê. Você me deixou tantas questões sem resposta, tantos espaços pra serem preenchidos. Espaços pra dois. Se eu pular todos esses espaços e olhar pra trás posso ver o quão vazia eu me tornei. E o teu molde era tão peculiar, tão seu. Eu procurei em tantos lugares por você, tantas bocas e corpos. Evidente, não há sequer resquícios de você. Eu me culpo, sempre me culpei, mas se é pra culpar alguém eu quero lhe culpar. Deixe-me jogar todas as dúvidas sobre ti, deixe-me lhe fazer sofrer o que eu sofri por todos esses anos.

Idiotice, você já não é mais capaz de sofrer por mim.

Em outro capitulo, lá estou eu, chorando a morte de um completo estranho, alguém que não era da família, alguém que já se foi. E o que eu faço?

Eu chorei todas as lágrimas de amor que eu podia, por você, somente, por você. E todo o amor se esvaziou, cessou, teve um longo, terno e doloroso fim.

Encontrei amor por ali.
E agora?
Que faço eu, com a pobreza da minha própria alma? Me pergunto se sou condenada a viver a infelicidade por todo o sempre, simplesmente por ter te amado além da capacidade de amar.


Como pode alguém morrer, tão cruelmente, e permanecer ainda de pés no chão. E caminhar, e caminhar, caminhar, sem destino.
Não há destino.
Morreu, de pé.
Morri, de pé.

Porque a minha alma tem de ser ligada a sua? Seríamos um só?

E quanto á minha felicidade? Eu não mereço sorrir mais uma vez? Não mereço amar?
Eu mereço.

Seus olhos, meus olhos. Seu sorriso, o sorriso mais lindo. Minhas lágrimas, teu corpo jogado sobre o poste, sangrando, sangrando...

Querido eterno amor da minha vida, sei que não gostaria de me ver assim. Sei que gostaria de me ver sorrir. Mas sem você, é improvável.
Querido eterno amor da minha vida, me despeço, dessa vida e de você. Sei que você vai se cuidar sozinho por aí, com ajuda dos anjos ou do vazio, ou talvez nem exista mais. Isso não compete a mim. Chegou a minha hora, me despeço. Adeus.

Não, não me lembro mais a cor do teu cabelo, nem do teu sorriso, tão lindo.

Eu vou me cuidar, que é o que resta, o que restou, dos destroços de um carro às 5 da tarde, horário de Londres.


Descanse em paz.


Com amor,

...







I'll take you in pieces
We can take it all apart
I've softened shipwrecks right from the start
I've been underwater
Breathin' out and in
I think I'm losin' where you end and I begin







Ei, meu nome é Ana. E aqui começa um novo capítulo.

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